O Meio.

09/10/2011 17:22

 

Existem muitos estudos com menores infratores na Europa e nos Estados Unidos indicando que a principal causa do comportamento delinqüente estaria relacionada às condições socioeconômicas das famílias. É, sem dúvida, uma visão bastante acanhada do problema e a palavra "principal" pode nos cegar para outros aspectos; trata-se de um problema do ser humano e, ao se privilegiar quase exclusivamente as condições socioeconômicas, estaríamos tirando do cenário exatamente o principal personagem, o próprio ser humano, mais precisamente, a personalidade do ser humano delinqüente.

Dentro dos enfoques sócio-políticos da delinqüência, a psicóloga Maria Delfina elaborou um trabalho com jovens de Santos e São Paulo, mostrando alguns fatores de risco que podem levar o jovem à delinqüência. Para ela os principais fatores de risco para o comportamento dos infratores estão nas interações com a família e com os ambientes sociais mais próximos, como a escola, por exemplo. Refere Maria Delfina, que merecem ser destacadas as discórdias conjugais, a existência de psicopatologia (doenças mentais) na família e a rejeição pelos pares (colegas de escola).

Para Maria Delfina, a influência da renda familiar no comportamento dos menores tem um papel menos determinante. A psicóloga analisou 40 menores entre 12 e 18 anos das cidades de Santos e de São Paulo. Contrariando a tese da delinqüência ser proporcional à pobreza, entre os infratores entrevistados pela psicóloga, 4 estavam situados na faixa de 2 salários mínimos; três tinham renda de 3 a 6 salários e três se concentravam na faixa de 11 a 13 salários. Contrariando a tendência em achar que os mais pobres são mais delinqüentes, a pesquisa mostrou que no grupo dos menores não-infratores, o rendimento familiar mais alto foi de 20 salários, enquanto que, entre os infratores, o maior rendimento familiar foi de 40 salários.

Outro fator de risco para a criminalidade, aparentemente mais importante, foi a escolaridade, segundo Maria Delfina. No grupo de infratores, entre os que tinham idade para concluir o ensino fundamental, 15 não o fizeram. Uma pesquisa anterior, de 1997, realizada com 4.245 menores infratores, mostrou que 96,6% não haviam concluído o ensino fundamental. Destes, 15,4% eram analfabetos. É importante salientar que a literatura mostra porcentagens entre 10% e 20% de jovens delinqüentes que apresentam algum tipo de problema psicológico passível de intervenção clínica. 

Visões mais psicodinâmicas do problema, como faz Paulo Ceccarelli, consideram a delinqüência infanto-juvenil relacionada ao aumento do sentimento de desamparo, típico da nossa modernidade cultural, onde a descrença generalizada nos valores tradicionais, como a família, igreja, escola, etc, leva a uma intensa busca do prazer pessoal e do individualismo, em detrimento dos ideais coletivos. 

Nesse cenário cultural o sistema de produção, o modelo de prestígio pessoal e dos ideais de consumo substitui ou elimina de vez qualquer ideal pessoal que não se enquadre nesta referência. Uma outra origem para esta patologia social seria a imposição de padrões de valores éticos duvidosos e da busca incondicional de sucesso a que nossos jovens estão submetidos. Com tudo isso, os valores culturais de felicidade são então transformados em ideais a qualquer preço.